Programa de reabilitação do Acidente Vascular Cerebral
O programa de reabilitação de um AVC deverá ter em conta:
Recuperação neurológica
Está em função da lesão inicial. É independente da ação terapêutica. Ela sobrevém principalmente nos 3 primeiros meses, podendo ir até aos 6 meses;
Recuperação funcional
Prolonga-se para além da recuperação neurológica. Dependendo do ambiente do doente, da sua motivação pessoal e de uma intervenção terapêutica que favoreça tanto a melhoria das capacidades residuais, como a utilização de modalidades compensatórias; ajudas técnicas (ortotese tibial, canadiana etc.), ou uma modificação do ambiente (adaptações para a higiene pessoa, sistemas de comunicação etc.);
Funções superiores
A recuperação das lesões superiores prolonga-se por vezes para lá de 1 ano e é muitas vezes incompleta. A persistência de uma negligência, de alterações de memória ou de perturbações visuo-percentuais graves, tem uma influência desfavorável sobre o processo de recuperação. A base de reeducação cognitiva repousa sobre 3 princípios: melhoria das capacidades residuais, aplicação de métodos compensatórios e da modificação do ambiente. A utilização de ajudas visuais e auditivas pode compensar uma memória deficente. A abordagem funcional consiste na repetição de tarefas simples e concretas;
Comunicação
O doente afásico pode recuperar principalmente durante os 3 primeiros meses, e mais particularmente nas primeiras semanas. O elemento mais importante é a gravidade da lesão inicial. A compreensão e denominação são as modalidades da linguagem que melhor recuperam. As afasias transcorticais e as de condução tem um prognóstico favorável, contrariamente às afasias globais.
Visão
A perda parcial ou completa de um campo visual pode persistir e prejudicar o progresso da recuperação funcional;
Função sensitivo-motora
- Reeducação neuromuscular (Bobath, Brunstrom, Carr e Shepherd, etc.)
- Biofeedback
- Estimulação eléctrica funcional - estimulação dos músculos antagonistas dos músculos espásticos. Tem muito interesse ao nível do ombro e da mão;
Membro superior
A mão desempenha um papel muito importante no plano da independência funcional. Infelizmente, de todas as funções perdidas, é a que leva mais tempo a recuperar, podendo mesmo não chegar a recuperar.
- A recuperação neurológica do membro superior começa nas primeiras 6 semanas em cerca de 80% dos indivíduos e completa-se mais ou menos 3-6 meses a seguir ao AVC. A ausência completa da recuperação motora da mão às 2 semanas ou da preensão activa às 3 semanas, prevê uma mão pouco funcional ou sem função. Vários factores, como a perda da sensibilidade discriminativa e proprioceptiva, de uma incoordenação ou negligência, vêm obscurecer o prognóstico global do membro superior.
- O ombro doloroso é um obstáculo muito grande na recuperação funcional do membro superior, que se vai reflectir nas actividades da vida diária que envolvem o uso deste membro. A sub-luxação do ombro, o conflito sub-acromial e a algodistrofia são situações frequentes que se registam nos doentes após o AVC.
- A reeducação sensitiva, a integração do membro superior parético nas actividade da vida diária e a aplicação de modalidades compensatórias são o objectivo da terapia ocupacional;
Reeducação do membro inferior
A sua recuperação dá-se principalmente durante os 3 a 6 meses a seguir ao AVC. É favorável em 85% dos doentes, que conseguem uma marcha independente com ou sem ajuda técnica;
Aspecto psico-social
Temos de ter em conta que cerca de 30% a 60% destes doentes têm um componente depressivo bastante marcado. Alguns autores consideram que as lesões do hemisfério anterior esquerdo comportam maior risco de um síndrome depressivo. É evidente que cria um obstáculo à reabilitação e torna-se um factor de mau prognóstico funcional. A eficácia de uma psicoterapia individual, associada a uma medicação, é importante.
A família representa um papel importantíssimo durante a fase de recuperação, principalmente aquando do regresso ao domicílio. A motivação do doente e a capacidade da família se ajustar às incapacidades do doente são determinantes sobre a qualidade de vida.